TEstículo não descido

A foto mostra escroto à direita vazio caraterizando o quadro clínico de testículo retido à direita. À esquerda mostra testículo normal no escroto".

O testículo não descido, ou genericamente criptorquidia, envolve uma série longa e complexa de alterações de posicionamento da gônada desde a fase embrionária, isto é, desde a 7º a 8º semana de gestação até sua colocação final no escroto. A gônada, nesta fase, é fixada por dois finos ligamentos, um no seu polo superior (ligamento suspensor) e outro no seu polo inferior, chamado gubernaculum testis. 

O ligamento superior regride nas meninas, enquanto o inferior aumenta nos meninos, principalmente na sua porção final onde encontra-se preso na região inguinal para onde deverá ir o testículo.

Por volta do início do 6º mês de gestação, a porção terminal do gubernaculum começa a se salientar através da parede abdominal na região inguinal e continua sua migração além do pubis até o escroto. O processus vaginalis (vide hérnia inguinal), se alonga por dentro do gubernaculum, proporcionando a descida do testículo da cavidade abdominal para o escroto. 

Esta descida deve estar completa por volta da 35º semana e é, ao que tudo indica, controlada por estimulação hormonal. Estímulos androgênicos e não androgênicos se alternam no mecanismo de descida do testículo até o escroto.

Menino de 1 ano e 4 meses com criptorquidia esquerda e hidrocele a direita.

A incidência de criptorquidia gira em torno de 4% nas crianças. E até 1 ano de idade esta marca cai para 0,9%, conforme relata um estudo do John Radcliffe Hospital Cryptorquidism Study Group de 1986.Uma das controvérsias a respeito desta patologia é sua relação com a temperatura do corpo. O testículo é um orgão que está preparado para ter seu pleno funcionamento em temperaturas mais baixas que a do corpo, isto é, em torno de 33º C. Sendo assim, a regulação de sua temperatura fica por conta de sensores musculares (M. dartos e M. cremaster) no escroto. 

O diagnóstico da criptorquidia é feito eminentemente por exame clínico, tentando identificar através da palpação se há ausência do testículo na região escrotal para os testícuos palpáveis. O que devemos ter a certeza é se o testículo fica espontanamente no escroto ou não ! Se num recém-nascido o testículo é identificado fora do escroto, no canal inguinal (virilha) por exemplo, ele deverá ser re-avaliado em 3 meses. Se permanecer ainda fora do escroto, ele poderá receber o diagnótico de testículo não descido. 

ATENÇÃO: se o testículo descer até um ano de idade, mesmo assim ele deverá continuar sob supervisão do médico, pois ainda existe um pequeno risco deste testículo voltar (reascender) em direção ao canal inguinal mais tarde na infância. 

TRATAMENTO: a terapia hormonal é baseada na teoria da qual esta patologia é causada pela deficiência no eixo hipotálamohipófise-gonadal. Após algumas tentativas com algumas substâncias hormonais, o hCG (Gonatrofina Coriônica Humana), é o mais comumente usado. Seu sucesso no tratamento gira em torno de 10-50% dos casos, variando muito de autor para autor. Acreditasseque isto se deva aos critérios de inclusão nos estudos, pois testículos retráteis e emergentes na altura do canal inguinal eterno sejam os mais propícios ao descenso que os demais. Alguns autores acreditam que estes testículos deveriam ser excluídos dos protocolos de aplicação do hCG. Do nosso ponto de vista, todo caso de criptorquidia é levado à cirurgia, devido aos pobres e discutíveis resultados relatados na literatura. 

CIRURGIA: a correção cirúrgica é baseada na informação de muitos autores que relatam que a degeneração testicular ocorre pelo aumento de temperatura (3-4ºC) quando o testículo encontra-se fora do escroto. Alguns autores mostram degeneração nas células germinativas já a partir do 6º mês de vida. Por isso, a recomendação é que a cirurgia se dê entre 6-18-meses, sendo preferida ao redor de 1 ano de vida. 

Existem muitos outros detalhes a respeito da criptorquidia, como desenvolvimento das células germinativas, fertilidade, malignidade, hernia inguinal concomitante, torsão e outros.